Causas
Assim como todos outros transtornos, envolve múltiplos fatores. Dentre os fatores responsáveis, destacam-se
Certos traços de personalidade (Baixa autoestima, Introversão, Perfeccionismo (Anorexia), Impulsividade (Bulimia), Instabilidade afetiva, evitativo, ansioso (TCAP)…)
Fazer alguma dieta[19]
É frequente a comorbidade de transtornos alimentares (TAs) com transtornos de humor, transtornos de ansiedade e dependência química. Sendo assim esses transtornos são considerados fatores de risco para anorexia, bulimia, hipergafia e vigorexia. Transtornos psiquiátricos de membros da família de primeiro grau (geralmente a figura materna) estão entre os principais fatores correlacionados com os TAs. Parentes de primeiro grau de pessoas com anorexia tem 11 vezes mais chance de desenvolverem esse transtorno que o normal enquanto parentes de bulímicos tem 4 vezes mais chance.[20]
Mães com anorexia tem 75%-80% de chance de transferirem a anorexia para um ou mais filhos e mães com bulimia tem 45% a 55%. Acredita-se que existe um predomínio dos fatores ambientais sobre os genéticos nessa transferência pois existe uma correlação positiva entre a convivência com a mãe e a transmissão dos transtornos e a terapia comportamental é mais eficaz que a medicamentos nesses transtornos.[21]
Diagnósticos
Existem alguns testes psicológicos desenvolvidos especialmente para o diagnóstico de transtornos alimentares gerais como o Teste de Atitudes Alimentares (EAT 26) ou específicos como o Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP) O diagnóstico geralmente é feito seguindo os critérios do CID-10 ou do DSM IV tanto por médicos, psicólogos ou nutricionistas.
O teste de atitudes alimentares (EAT-26) foi desenvolvido por Garner e Garfinkel, originalmente usado apenas para anorexia, mas revisado para identificar outros transtornos alimentares, usa 14 critérios e é voltado especialmente para identificar riscos de saúde. Já está adaptado ao português e é aprovado pela APA.
No caso específico da anorexia nervosa os critérios basicamente envolvem:
Enquanto os da bulimia nervosa se caracterizam por:
Já os critérios diagnósticos dos outros transtornos ainda são controversos e estão sendo discutidos. Critérios importantes como a quantidade de episódios de compulsão alimentar necessários para caracterizar um TCAP ainda não estão definidos, mas estão em torno de duas vezes por semana.
Tratamento
A principal meta do tratamento é o ganho de peso até o retorno do IMC aos parâmetros normais (acima de 19 pontos).
As metas do tratamento para a anorexia são:
O tratamento é realizado com equipe interdisciplinar que inclui médico clínico, psiquiatra, psicólogo e nutricionista. A avaliação do paciente deve incluir:
Para o tratamento é importante criar uma aliança entre os familiares, evitando culpar indivíduos e comportamentos. No tratamento de crianças e adolescentes, a aliança com os pais e cuidadores é essencial.
A decisão de hospitalização na anorexia está geralmente indicada nas seguintes situações:
A decisão de internação de crianças ou adolescentes pode ser precipitada como uma medida de proteção de alterações irreversíveis das funções de crescimento e desenvolvimento.
Durante a internação, se a via de ingestão alimentar for impraticável pela recusa da paciente, alimentação nasogástrica ou endovenosa pode ser considerada. A decisão de promover uma via de alimentação contra a vontade da paciente deve ser cuidadosamente discutida com os familiares.
Nos pacientes com desnutrição severa (peso < 70% do peso esperado), a retomada da alimentação pode ser associada com várias complicações clínicas. O aumento de fluidos pode levar à insuficiência cardíaca congestiva. É recomendável monitoramento cardíaco, dosagem diária dos níveis de fósforo, magnésio, potássio, sódio e cálcio nos cinco primeiros dias de tratamento.
Com a recuperação do peso, os pacientes sentem-se assustados por retornar a números (em termos de quilogramas) que associam a padrões de obesidade e podem reagir de forma negativa, com sintomas ansiosos e depressivos. A recuperação do peso pode se associar com aumento temporário de retenção de líquidos, com edemas, desenvolvimento de acne, seios intumescidos, distensão abdominal e diminuição da motilidade intestinal causada pela desnutrição.
Na alta hospitalar, apenas a recuperação do peso não pode ser considerada critério suficiente. A relação com o corpo após atingir níveis adequados de peso e o padrão de alimentação devem ser também observados.
Tratamento Psicoterápico
No quadro agudo, no início da introdução alimentar e do ganho de peso, intervenções focadas na compreensão do quadro, explicações, suporte, encorajamento, enfatizar os sucessos obtidos e reforço positivo são as possibilidades mais eficazes, considerando o estado geral dos pacientes. Processos psicoterápicos mais elaborados são de questionável aplicabilidade em pacientes desnutridos com alterações cognitivas.
Para crianças e adolescentes, as intervenções familiares são as mais efetivas.
Com o processo de ganho de peso, a psicoterapia terá importante papel na compreensão da doença, avaliação de distorções cognitivas e como elas estão associadas aos sintomas, na identificação de fatores predisponentes e precipitantes do quadro, na compreensão de como o quadro alimentar está relacionado a dificuldades emocionais pré-existentes e como evitar ou minimizar recaídas. Melhora do humor e diminuição da relevância das distorções cognitivas parecem desempenhar importante papel na melhora da reaquisição de padrões alimentares saudáveis, mesmo antes de poder ser aferida pelo ganho de peso.
Os indivíduos com AN são resistentes às intervenções externas, o que contribui para uns dos mais altos índices de recusa e desistência prematura do tratamento. Aqueles que permanecem, freqüentemente apresentam padrão de resistência às orientações e, geralmente, apresentam altos índices de recaídas.
A terapia cognitiva comportamental apresenta-se como um método eficaz na manutenção. Estudos indicam que 70% dos pacientes tratados com terapia cognitiva não mais satisfaziam os critérios de diagnóstico para a AN no sexto mês, embora tenham mantido, em média, um peso significativamente baixo. Outros modelos de intervenção psicoterápicos como interpessoal e psicanalítico também parecem desempenhar papel importante na prevenção. Em crianças e adolescentes, terapia familiar é essencial na manutenção do tratamento.