É preciso reforçar que o TDAH não é um transtorno devido às circunstâncias sociais em que a criança vive. O TDAH tem uma origem neurológica. Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e nas suas conexões com o resto do cérebro. Esta região é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), autocontrole, organização e planejamento.
Por ser mais evidente em crianças na idade escolar, educadores e pais precisam estar atentos aos sinais do transtorno.
Se a criança já nasce com o TDAH, quais sinais os pais e professores devem ficar atentos?
As manifestações desse problema sempre têm início na infância. Ninguém adquire o transtorno na adolescência ou idade adulta. Muitas vezes os pais contam que já desde o berço notavam que aquela criança era mais agitada, mais insaciável, irritada, de difícil consolo, com maior prevalência de cólicas, dificuldades de alimentação e de sono.
Na idade pré-escolar é uma criança mais agitada, pode ter dificuldade de ajustamento, ser mais teimosa, irritada e extremamente difícil de satisfazer.
No ensino fundamental pode ter incapacidade de se concentrar, distração, ser mais impulsivo, ter um desempenho inconsistente e a presença de hiperatividade.
Na adolescência é inquieto, o desempenho acadêmico é ruim, há dificuldade de concentrar, de memorizar, além da propensão ao abuso de substâncias químicas e acidentes.
Quais as causas do TDAH?
O TDAH tem causas genéticas, aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Quando identificamos uma pessoa com TDAH, se pesquisarmos na mesma família, invariavelmente encontrarem as outras pessoas com o mesmo problema, com frequência um dos pais ou algum irmão.
Substâncias ingeridas na gravidez como a nicotina e o álcool também podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm maiores chances de ter filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. Entretanto, muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.
Como o TDAH pode ser diagnosticado?
Não existe no momento nenhum teste ou exame que sozinho faça o diagnóstico do TDAH, sendo o mesmo feito de forma clínica. O diagnóstico deve ser feito por psiquiatras ou neuropediatras, com ajuda de psicólogos, que fazem avaliações e questionários para saber se essa criança realmente tem o nível de atenção e hiperatividade que exceda o que é encontrado em crianças normais.
Para o diagnóstico ser confirmado é necessário que os sintomas durem um certo tempo, em mais de um lugar (casa, escola, lazer) e prejudicar a pessoa (aprendizado, convívio, tarefas). Além disso, os sintomas devem atender os critérios descritos no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-V). Conforme este manual o diagnóstico de TDAH não é confiável para crianças menores de 5 anos (níveis inadequados de atenção, hipercinesia e impulsividade podem ser comportamentos normais nestas idades).
O TDAH não deve ser confundido com o comportamento de uma criança que é apenas agitada ou hiperativa. Além disso, é necessário descartar a ocorrência dos sintomas devido somente a separação ou briga dos pais (que podem causar sintomas parecidos com os de TDAH), a diminuição da audição ou da visão às vezes ainda não detectadas (pode deixar uma criança desinteressada, desatenta e inquieta), o uso de certos medicamentos e algumas doenças clínicas, a presença de outros transtornos (como o autismo, a depressão, o transtorno bipolar, os quadros de ansiedade).
O TDAH tem cura?
Uma vez que o TDAH é de origem neurológica ele acompanha a pessoa por toda a vida. É importante que seja diagnosticado desde a infância para que seja iniciado o tratamento adequado, o que pode minimizar maiores prejuízos e riscos na adolescência ou idade adulta. Existem, entretanto, muitos adultos com déficit de atenção, os quais podem se beneficiar de estratégias de controle para lidar com a desatenção e a hiperatividade, que é a característica do transtorno. Caso isto não ocorra, essas pessoas podem ficar mais expostas a situações de acidentes e risco, provenientes da sua desatenção dificuldade de controle dos impulsos.
Enfim, não se pode falar em cura do TDAH. A pessoa pode ter uma vida ajustada caso faça o tratamento adequado e aprenda a conviver com os sintomas.
Qual o tratamento mais indicado?
Existem alguns medicamentos que são utilizados, justamente devido à existência de uma base neurológica. Esses medicamentos atuam nas funções e neurotransmissores que supostamente estão falhos e servem para controle da impulsividade, da hiperatividade e da desatenção. Além dos medicamentos, é importante a intervenção complementar com um psicólogo, o qual ajudará no controle dos comportamentos. A abordagem mais indicada é a cognitivo-comportamental, com resultados comprovadamente eficazes. O trabalho de um pedagogo ou psicopedagogo também será fundamental para auxiliar na aprendizagem escolar.
Ou seja, o tratamento do TDAH envolve abordagens múltiplas, devendo receber orientações não só o paciente, mas como também a família e a escola.
Qual o papel do professor no processo diagnóstico e no tratamento do TDAH?
Os professores observam as crianças em uma grande variedade de situações e possuem experiência com muitas crianças, o que possibilita a distinção entre os comportamentos esperados para a faixa etária e os comportamentos atípicos. Identificar precocemente os sintomas e encaminhar a criança o mais rápido possível para a avaliação médica é fundamental no processo diagnóstico e de tratamento do TDAH. Não cabe ao professor realizar o diagnóstico. O papel preponderante é o de encaminhamento para os serviços especializados. Uma vez confirmado o diagnóstico um plano de intervenção deve ser traçado para favorecer o aprendizado e ajustar o comportamento.
Concluindo, reforçamos a importância do encaminhamento precoce para diagnóstico e tratamento. Embora nem tudo seja TDAH, ele atinge um número significativo de pessoas, perdura por toda a vida, sendo necessária intervenção apropriada para que o paciente consiga ter uma vida feliz e ajustada.